Introdução
Viajar com crianças é, acima de tudo, redescobrir o mundo. E foi exatamente isso que aconteceu quando desembarcamos em Paris com nossa filha de 5 anos, carregando uma mala pequena e uma imaginação gigantesca. Para ela, a capital francesa não era apenas a cidade da arte, da história e da gastronomia — era o lugar onde tudo podia ganhar vida como num livro de histórias.
Logo na chegada, os olhos dela saltavam de um lado para o outro, atentos a cada detalhe: as pontes do Sena, os telhados pontudos, os cafés com mesinhas na calçada, os cheiros doces das boulangeries. Cada esquina era um cenário novo para a mente fértil de uma criança curiosa.
Mas nada, absolutamente nada, se comparou ao momento em que ela avistou a Torre Eiffel pela primeira vez. Estávamos caminhando pelas margens do rio quando ela apontou para o alto e, com os olhos arregalados de admiração, soltou a frase que marcaria toda a viagem:
“Achei que a Torre Eiffel era de chocolate!”
Foi ali, entre risos e encantamento, que percebemos: Paris vista por olhos infantis é uma experiência completamente diferente — e talvez ainda mais mágica. E é sobre essa doce e divertida perspectiva que vamos contar neste post.
O Primeiro Contato com Paris pelos Olhos de uma Criança
Antes mesmo de embarcarmos rumo a Paris, nossa filha já tinha criado, em sua mente, uma versão encantada da cidade. Inspirada por filmes como Ratatouille, desenhos da Peppa Pig em Paris e páginas coloridas de livros infantis sobre viagens, ela imaginava um lugar cheio de luzes cintilantes, croissants voadores e ratinhos simpáticos que sabiam cozinhar. A Torre Eiffel, claro, já ocupava um espaço especial no seu imaginário — mas, em sua versão particular, ela era feita de… chocolate.
Chegamos num fim de tarde nublado, e logo os sentidos dela começaram a ser bombardeados por novidades. O som da língua francesa, com suas palavras melódicas e cheias de “R”, foi motivo de muitas risadinhas. Ela tentava repetir tudo o que ouvia, transformando “bonjour” em “bombom” e “merci” em “maçã”. O cheiro vindo das padarias, com baguetes quentinhas e doces saindo do forno, deixava o caminho até o hotel mais demorado — cada vitrine era uma nova tentação.
As ruas pareciam sempre ocupadas, com bicicletas, carros pequenos e pessoas andando apressadas. Mas nada tirava o foco dela da missão principal: ver a Torre Eiffel.
Quando finalmente chegamos perto do Campo de Marte e aquela estrutura imponente apareceu por entre as árvores, ela parou, olhou fixamente por alguns segundos e, com a sinceridade que só as crianças têm, soltou:
“Ela parece de chocolate!”
Nos entreolhamos e começamos a rir. Não era a reação que esperávamos, mas foi a mais doce possível. A comparação fez todo o sentido no mundinho dela — o tom escuro do ferro, o brilho sob a luz do entardecer… parecia mesmo uma gigante escultura de chocolate ao leite. Desde então, a Torre Eiffel ganhou outro nome em nossa família: “a torre de chocolate”.
Ver Paris pelos olhos dela foi um presente. E essa primeira impressão nos lembrou que o verdadeiro encanto de viajar com crianças está exatamente aí: na forma única, criativa e espontânea com que elas interpretam o mundo ao redor.
Paris em Versão Infantil
Paris tem fama de ser romântica, elegante e cheia de história — mas, com uma criança ao nosso lado, ela se revelou também divertida, doce e cheia de surpresas. Descobrimos que a Cidade Luz pode brilhar ainda mais quando vista em sua versão infantil.
Um dos primeiros passeios que fizemos foi o clássico bateaux-mouche, o passeio de barco pelo rio Sena. Enquanto nós apreciávamos os monumentos com aquele olhar contemplativo de quem já viu fotos mil vezes, nossa filha estava fascinada por algo muito mais simples: os reflexos da água, os patinhos que nadavam ao lado do barco e os turistas acenando das pontes. Quando passamos embaixo da Pont Alexandre III, ela gritou:
“Olha, mamãe! Um túnel de princesa!”
— e pronto, transformou o monumento em cenário de conto de fadas.
Nos parques, o encantamento só crescia. O Jardin du Luxembourg, com seus barcos de madeira que as crianças empurram no lago, foi um dos pontos altos. Mas nada se comparou à emoção de encontrar um carrossel de dois andares no meio de um parque. Ela escolheu um cavalo dourado com olhos azuis e, ao final da volta, anunciou com convicção:
“Agora sim, eu sou francesa.”
A gastronomia parisiense também ganhou sua própria versão infantil. Crêpes de Nutella viraram quase um grupo alimentar à parte durante a viagem. A cada esquina, era um novo argumento para comer “só mais um”. Em uma das padarias, ao provar um pain au chocolat, ela soltou:
“Esse pão tem chocolate escondido. Paris é mesmo mágica!”
Mas talvez o momento mais inusitado tenha sido quando ela viu uma escultura no Museu Rodin e perguntou, séria:
“Ele está pensando ou está fazendo força pra ir no banheiro?”
A risada foi inevitável, e aquele foi o momento em que percebemos: estávamos vivendo uma versão de Paris que nenhum guia de viagem jamais descreveria.
Ao acompanhar as reações dela, redescobrimos a cidade. Aquela pressa que normalmente temos ao querer “ver tudo” se transformou em um ritmo mais leve, mais atento aos detalhes. Passamos a olhar Paris com mais humor, mais leveza e com mais coração.
Desafios e Surpresas de Viajar com Crianças em uma Cidade Grande
Viajar com uma criança para uma cidade grande como Paris é uma experiência transformadora — e, claro, cheia de aprendizados práticos. Por mais encantadora que a cidade seja, os desafios aparecem, especialmente quando a rotina do pequeno viajante é colocada à prova logo nos primeiros dias.
O primeiro obstáculo foi o fuso horário. Chegamos em Paris com o corpo no Brasil e o relógio tentando se ajustar. Para uma criança, essa mudança pode bagunçar bastante o sono, os horários das refeições e até o humor. Nos primeiros dias, nossa filha queria dormir no meio da tarde e jantar quase na hora de dormir. Aos poucos, com jeitinho e paciência, conseguimos alinhar os horários — mas aprendemos que forçar a adaptação rápida só gera frustração. O segredo foi respeitar o tempo dela e ajustar o roteiro conforme o ritmo da família.
O transporte público foi outro ponto que exigiu atenção. O metrô de Paris é eficiente, mas nem sempre é amigável para carrinhos de bebê ou crianças cansadas. Muitas estações não têm elevadores e, em horários de pico, o aperto é inevitável. Alternamos o metrô com caminhadas e, em alguns momentos, optamos por táxis ou aplicativos de transporte quando a energia da pequena acabava antes da nossa vontade de explorar.
A alimentação foi uma grata surpresa. Apesar da fama de culinária refinada, Paris também sabe agradar o paladar infantil. Encontramos com facilidade pratos simples, massas, frango grelhado e claro, os crêpes e doces que viraram quase um incentivo para o bom comportamento. Descobrimos que muitos restaurantes estão preparados para receber famílias e, mesmo quando não havia menu infantil, sempre surgia um jeitinho simpático de adaptar o prato.
Mas talvez o aprendizado mais valioso tenha sido este: adaptar o roteiro ao ritmo da criança não significa abrir mão da viagem — significa vivê-la de forma mais verdadeira. Aprendemos a incluir pausas nos parques, visitas mais curtas a museus e até momentos sem programação, apenas para brincar, descansar ou observar o movimento da cidade. E foram justamente nesses respiros que surgiram os momentos mais memoráveis.
Viajar com crianças não é sobre ver todos os pontos turísticos. É sobre ver a cidade com outros olhos — mais atentos, mais lentos, e infinitamente mais encantados.
O Que Aprendemos com Ela em Paris
Viajar com uma criança é mais do que uma mudança de cenário — é uma mudança de perspectiva. Em Paris, foi a nossa filha quem nos ensinou a maneira mais bonita de explorar a cidade: vivendo o presente sem pressa, com olhos curiosos e coração aberto para o inesperado.
Enquanto nós pensávamos nos horários, nas atrações e no próximo ponto turístico, ela nos puxava pela mão para olhar uma fonte, observar um cachorro parisiense de boina (sim, existiu!) ou sentar no meio-fio para comer um biscoito olhando os ônibus passarem. Foram essas pausas, tão espontâneas e simples, que nos fizeram perceber o quanto estamos sempre correndo — e o quanto deixamos passar quando não damos espaço para a contemplação.
A curiosidade dela era uma aula viva. Onde nós víamos “mais uma igreja linda”, ela via “um castelo onde talvez more uma fada”. Onde nós notávamos um detalhe arquitetônico, ela se encantava com a porta azul ou com as flores na janela. Quando nos preocupávamos com o tempo de fila, ela fazia amizade com alguém ao lado. Tudo era motivo para aprender, brincar, imaginar.
Viajar em família, nesse contexto, se transformou em algo muito maior do que turismo. Foi uma troca constante de experiências, uma oportunidade de aprender uns com os outros e de descobrir que a criança não apenas nos acompanha na viagem — ela nos guia, nos ensina e nos lembra de como é bom se surpreender com o mundo.
Percebemos que não precisamos ver tudo para viver tudo. Às vezes, basta observar uma criança encantada com uma torre que “parece de chocolate” para entender o verdadeiro sentido de estar presente. Paris foi o destino, mas a jornada emocional e afetiva que vivemos juntos foi o verdadeiro tesouro da viagem.
Dicas para Quem Quer Levar os Pequenos para Paris
Se você está pensando em levar seu(s) pequeno(s) para conhecer Paris, saiba que a cidade pode ser tão mágica para crianças quanto é para adultos — basta planejar com carinho e adaptar o roteiro à realidade familiar. Aqui vão algumas dicas valiosas que aprendemos na prática:
🧸 Melhores atrações para crianças na Cidade Luz
Jardin du Luxembourg: Um dos parques mais bonitos da cidade, com área para brincadeiras, teatrinho de marionetes (Guignol), aluguel de barquinhos de madeira para brincar no lago e muito espaço verde.
Carrosséis espalhados pela cidade: Estão em vários pontos turísticos, como na Torre Eiffel, Montmartre e Champ de Mars. São encantadores e dão aquele toque clássico parisiense.
Cité des Sciences et de l’Industrie: Um museu interativo perfeito para crianças curiosas, com exposições práticas, planetário e áreas específicas para diferentes faixas etárias.
Aquarium de Paris: Localizado perto do Trocadéro, é uma boa opção para dias chuvosos e tem tanques interativos e até um cinema infantil.
Passeio de barco no Rio Sena: Os bateaux-mouches são tranquilos, seguros e oferecem uma vista encantadora da cidade — sucesso garantido entre os pequenos.
🛏️ Dicas de hospedagem family friendly
Citadines Apart’hotel (diversas localizações): Práticos, com cozinha e espaço para famílias, perfeitos para quem quer manter um pouco da rotina da criança.
Hotel Le Lapin Blanc (5º arrondissement): Charmoso, confortável e tem uma decoração que encanta os pequenos, inspirada em Alice no País das Maravilhas.
Novotel Paris Centre Tour Eiffel: Próximo à torre, quartos amplos, estrutura para famílias e um café da manhã que agrada todas as idades.
🥐 Sugestões de restaurantes e passeios leves
Crêperies: São sempre uma ótima pedida! A Crêperie Brocéliande em Montmartre é deliciosa e tem ambiente informal.
Angelina (na Rue de Rivoli): Para um chocolate quente dos deuses e doces que encantam tanto quanto as vitrines da Disney.
Picknicks em parques: Compre baguetes, queijos, suco e frutas e faça um piquenique no Jardim das Tulherias ou no Champ de Mars, com a Torre Eiffel ao fundo.
🍫 Onde encontrar docinhos que realmente parecem de chocolate?
Choco-Story Paris: Um museu do chocolate com degustações, história e até oficinas infantis. Aqui sim, é possível encontrar torres Eiffel feitas 100% de chocolate!
Maison Georges Larnicol: Doces artísticos que parecem brinquedos. Ideal para presentear e encantar os olhos (e o paladar).
Patrick Roger: Chocolates finos que parecem obras de arte — inclusive esculturas grandes e temáticas, que fazem qualquer criança achar que está num filme de fantasia.
Conclusão
A Torre Eiffel pode até não ser feita de chocolate — apesar da convicção encantadora da nossa pequena viajante —, mas a verdade é que essa viagem foi doce como um bombom. E não por causa dos crêpes, dos macarons ou dos chocolates artesanais (embora todos tenham ajudado!), mas pelo jeito como Paris ganhou vida através dos olhos curiosos e criativos de uma criança.
Viajar com filhos é um convite à desaceleração. É aprender a olhar mais devagar, a rir das pequenas coisas, a transformar filas em brincadeiras e monumentos históricos em castelos de fadas. É perceber que, muitas vezes, a melhor parte da viagem não está no roteiro, mas nas frases espontâneas, nas descobertas inusitadas e na forma como eles interpretam o mundo.
A cada esquina de Paris, fomos lembrados da importância de ouvir mais. De valorizar aquele olhar infantil que mistura realidade e imaginação, criando experiências que não cabem em guias de viagem, mas que ficam guardadas pra sempre no coração.
E como disse nossa filha, enquanto se despedia da cidade da luz com um suspiro satisfeito:
“Eu gostei de Paris… mas ainda acho que ela parecia de chocolate!”