Introdução
Viajar com crianças pequenas pode parecer um desafio e tanto — e, de fato, muitas vezes é! Somos um casal apaixonado por natureza, trilhas e paisagens de tirar o fôlego. Depois de algumas viagens mais “urbanas” com nossos filhos de 3 e 5 anos, decidimos encarar uma aventura diferente: explorar a Patagônia em família.
Sim, a Patagônia — com seus ventos gelados, trilhas, glaciares e longas distâncias — pode soar como um destino para aventureiros experientes, mas decidimos que dava, sim, para viver essa experiência com os pequenos. Claro, com um bom planejamento, bastante flexibilidade e uma dose generosa de paciência.
Por que escolher a Patagônia? Porque queríamos mostrar às crianças algo realmente grandioso. A ideia era sair da rotina, trocar telas por montanhas e criar memórias intensas em meio à natureza. Queríamos um destino onde pudéssemos desacelerar e, ao mesmo tempo, nos surpreender todos os dias.
Spoiler: foi incrível. Tivemos perrengues? Sim. Mas também vivemos momentos que guardaremos para sempre. Nesse relato, vou contar tudo: o que funcionou, o que deu errado, os lugares que encantaram os pequenos e as lições que aprendemos nesse cantinho selvagem e mágico do mundo.
Preparativos Antes da Viagem
Quando decidimos que nosso próximo destino seria a Patagônia, sabíamos que o sucesso da viagem dependeria muito dos preparativos. Viajar com crianças pequenas exige um olhar atento para cada detalhe, desde documentos até o que vai na mochila de mão.
Documentação e vacinas necessárias
Para entrar na Argentina e no Chile (ambos fazem parte da região patagônica), levamos as certidões de nascimento das crianças e seus passaportes — sim, mesmo sendo possível entrar apenas com RG atualizado, preferimos garantir o passaporte por ser mais aceito em todos os lugares e facilitar nos aeroportos. Também levamos uma autorização de viagem assinada em cartório, caso um de nós precisasse se locomover separado com as crianças.
Em relação a vacinas, não foi exigido nenhum comprovante específico no momento da nossa viagem, mas mantivemos as carteiras de vacinação das crianças atualizadas por precaução.
Escolha do período do ano
A Patagônia é linda o ano todo, mas as condições climáticas podem ser bem extremas. Optamos por viajar no verão do hemisfério sul (janeiro), quando as temperaturas são mais amenas e os dias são longos — o que ajuda bastante com o ritmo das crianças. Ainda assim, pegamos vento forte, noites frias e até garoa, então o clima continua imprevisível.
Evitamos o inverno (junho a agosto), porque além das temperaturas negativas, muitos passeios e trilhas fecham ou ficam difíceis para crianças pequenas.
Planejamento do roteiro com foco em crianças
Montamos um roteiro flexível, com deslocamentos curtos entre cidades e tempo de sobra para pausas. Escolhemos El Calafate como base principal, por ter boa infraestrutura e passeios mais tranquilos, como o Glaciar Perito Moreno (que pode ser admirado sem precisar de trilha pesada).
Incluímos no máximo uma atividade principal por dia, deixando espaço para cochilos, refeições sem pressa e eventuais mudanças de planos — porque, com crianças, isso sempre acontece.
Dicas de malas para os pequenos
A mala das crianças foi pensada em camadas: bodies, camisetas térmicas, blusas fleece, casacos corta-vento, gorros, luvas e cachecóis. Também levamos calçados impermeáveis e confortáveis, além de calças quentes e resistentes. E, claro, protetor solar e hidratante, porque o vento patagônico resseca bastante a pele.
Incluímos alguns brinquedos pequenos (livros, massinha, carrinhos) e um tablet com fones de ouvido para os momentos de descanso ou longas esperas. Também levamos uma bolsinha com lanches secos (biscoitos, castanhas, frutas desidratadas), garrafinhas de água e sucos — tudo para garantir que a fome não virasse crise.
Com esses cuidados, começamos a viagem mais tranquilos, prontos para encarar os desafios e as maravilhas da Patagônia com nossos pequenos exploradores.
Como Foi a Logística de Chegar Até Lá
Chegar à Patagônia com crianças pequenas é uma verdadeira missão — mas com o planejamento certo, tudo se encaixa. A logística pode ser cansativa, sim, mas não é impossível. Aqui vai um relato honesto de como foi o nosso percurso e os transportes durante a viagem.
Voos e conexões
Como moramos no Brasil, a nossa jornada começou com um voo internacional até Buenos Aires. De lá, pegamos um voo doméstico até El Calafate, na Patagônia argentina. Entre esperas e conexões, foram quase 12 horas de deslocamento total — e aí vem a primeira dica de ouro: escolha voos diurnos, se possível. Os nossos filhos dormiram parte do tempo, mas o fato de estarem acordados durante os embarques e desembarques ajudou muito na cooperação.
Levamos mochilas com tudo que eles poderiam precisar no trajeto: muda de roupa, lanches, brinquedos, lenços umedecidos, tablets com desenhos e fones de ouvido infantis. Além disso, fizemos escalas com pelo menos 2 horas de intervalo, para não correr riscos com atrasos e para dar tempo de ir ao banheiro, comer e caminhar um pouco com eles.
Transporte interno
Assim que chegamos em El Calafate, alugamos um carro — e essa foi uma das melhores decisões da viagem. Ter a liberdade de sair no nosso ritmo, parar quando necessário e não depender de horários fixos fez toda a diferença com crianças pequenas.
As estradas são boas e, na maioria das vezes, bem sinalizadas. Também usamos o carro para fazer o trajeto até El Chaltén, uma cidade charmosa a cerca de 3 horas de El Calafate, onde fizemos passeios mais tranquilos e curtos.
Também avaliamos a opção de ônibus intermunicipais, mas acabamos descartando por conta dos horários limitados e da logística com cadeirinhas, malas e lanches — o carro nos deu muito mais autonomia.
Dificuldades e facilidades com crianças pequenas
O principal desafio foi o tempo de deslocamento, que naturalmente exige mais paciência dos pequenos (e dos pais!). Em alguns momentos, o tédio bateu, principalmente nas estradas longas, e tivemos que improvisar brincadeiras no carro, cantar músicas e fazer paradas estratégicas para esticar as pernas.
Por outro lado, as crianças se encantaram com as paisagens desde o início. Os glaciares, as montanhas e até os guanacos na beira da estrada foram uma atração à parte. Eles participaram da viagem com curiosidade e, ao nosso ver, isso compensou cada segundo de cansaço.
No geral, a logística foi desafiadora, mas administrável — e, no fim, a experiência de atravessar a imensidão da Patagônia com nossos filhos nos deu a certeza de que vale a pena sair da zona de conforto de vez em quando.
Hospedagens Amigáveis para Famílias
Escolher onde se hospedar na Patagônia com crianças pequenas pode fazer toda a diferença entre uma viagem tranquila e uma cheia de estresse. Como nossa prioridade era conforto, praticidade e um ambiente acolhedor para os pequenos, pesquisamos bastante antes de bater o martelo. No fim das contas, fizemos duas cidades base: El Calafate, na Argentina, e Puerto Natales, no Chile.
Cidades base: El Calafate e Puerto Natales
El Calafate foi nossa principal base. A cidade tem uma boa estrutura turística, com mercados, farmácias, restaurantes e passeios acessíveis — além de ser a porta de entrada para o famoso Glaciar Perito Moreno. Com crianças, isso é uma vantagem enorme: menos tempo de deslocamento, mais comodidade.
Já Puerto Natales, no Chile, foi escolhida como ponto estratégico para explorar o Parque Nacional Torres del Paine. Embora um pouco mais rústica do que El Calafate, a cidade tem seu charme e algumas boas opções para quem viaja com filhos.
Hotéis e pousadas com estrutura para crianças
Nossa prioridade foi encontrar hospedagens que oferecessem quartos espaçosos, aquecimento eficiente (importantíssimo na Patagônia!) e, de preferência, alguma estrutura de cozinha ou ao menos frigobar e micro-ondas — porque, com crianças, aquecer uma mamadeira ou preparar um lanchinho à noite pode salvar o dia.
Em El Calafate, ficamos em uma pousada estilo “apart hotel” que tinha mini cozinha, berço disponível e até uma pequena área externa onde as crianças podiam brincar. Eles também ofereciam cadeiras altas no café da manhã e tinham funcionários muito receptivos com os pequenos — um diferencial que nos fez sentir em casa.
Em Puerto Natales, a hospedagem era mais simples, mas confortável. O staff nos ajudou com dicas de restaurantes kids-friendly e até prepararam sopa sob medida para nossos filhos em uma noite mais fria. Pequenos gestos assim fazem toda a diferença quando se viaja com crianças.
Experiências boas (e nem tão boas)
Entre as boas experiências, destacamos o silêncio e o aquecimento das acomodações. Com crianças, dormir bem é essencial — e felizmente não tivemos problemas com barulho ou quartos gelados. Também foi ótimo poder preparar pequenas refeições nas hospedagens, evitando sair todas as noites com os pequenos cansados.
Do lado das experiências nem tão boas, tivemos uma noite em que ficamos sem água quente (justo na hora do banho das crianças!), mas a equipe do hotel foi ágil e resolveu o problema rapidamente. Também notamos que nem todos os lugares estão preparados com segurança para crianças — encontramos escadas sem portão, tomadas sem proteção, e móveis com quinas em alguns locais. Nada que nos impedisse de ficar, mas são pontos de atenção para outras famílias.
No geral, encontrar hospedagens acolhedoras e com um mínimo de estrutura familiar fez com que nossa aventura patagônica fosse mais leve e muito mais prazerosa. Vale a pena investir um tempo extra na pesquisa para garantir conforto e segurança para todos.
Passeios e Atividades que Funcionaram com Crianças
Uma das nossas maiores dúvidas ao planejar a viagem era: será que as crianças vão curtir os passeios? A boa notícia é que sim — e muito! Com o roteiro ajustado ao ritmo delas e escolhas conscientes, conseguimos viver experiências incríveis em família, sem exagerar nas caminhadas ou exigir mais do que elas podiam entregar.
Trilhas leves e acessíveis
Nosso passeio favorito, sem dúvida, foi ao Glaciar Perito Moreno, em El Calafate. O parque conta com passarelas seguras e bem sinalizadas, que permitem observar a imensidão do glaciar de diferentes ângulos — tudo isso sem trilhas pesadas. As crianças ficaram fascinadas com os estalos do gelo se partindo e a vista surreal. E o melhor: carrinhos de bebê conseguem circular tranquilamente pelas passarelas principais.
Outro passeio que funcionou muito bem foi o passeio de barco pelo Lago Argentino, que ofereceu uma maneira tranquila de ver os glaciares de perto, sem exigir esforço físico dos pequenos. Com lanchinho na bolsa e agasalho reforçado, o passeio foi um sucesso.
Contato com a natureza e animais
A Patagônia é um prato cheio para quem gosta de natureza — e as crianças simplesmente amaram ver animais soltos, como guanacos, lebres, flamingos e até condores sobrevoando as montanhas. Nas estradas entre El Calafate e El Chaltén, fizemos várias paradas só para observar a fauna local, o que rendeu momentos lindos (e muitas fotos!).
Também fizemos pequenas caminhadas nos arredores dos hotéis, onde era possível explorar trilhas curtas, observar flores e pedras diferentes, brincar com gravetos… às vezes, os passeios mais simples foram os mais divertidos para eles.
Locais com estrutura
Demos preferência a passeios com banheiros acessíveis, lanchonetes ou áreas de descanso, e isso fez toda a diferença. No Parque Nacional Los Glaciares, por exemplo, há banheiros bem localizados, áreas de piquenique e uma lanchonete na entrada que salvou nosso almoço em um dos dias mais frios da viagem.
Outro ponto positivo: muitos desses locais aceitam pagamento com cartão e têm atendimento bilíngue, o que facilita para quem viaja com crianças e precisa resolver tudo rápido.
Dicas de passeios que não funcionaram tão bem com crianças
Nem tudo são flores — e tivemos alguns programas que não renderam tanto com os pequenos. Um exemplo foi uma tentativa de trilha em El Chaltén (a famosa trilha Laguna Capri), que parecia leve no mapa, mas exigia subida constante e chão irregular. Mesmo com mochilas cargueiras para carregar as crianças, tivemos que abortar o passeio antes da metade, pois ficou cansativo e pouco seguro.
Também tentamos um passeio longo de van para Torres del Paine, com muitas paradas em mirantes, mas o tempo no carro somado ao vento forte deixou as crianças impacientes. Se fôssemos repetir, optaríamos por algo mais curto ou um tour privado, no nosso ritmo.
Resumo da história: escolher bem os passeios faz toda a diferença. A Patagônia é selvagem, sim — mas também pode ser acolhedora para famílias com crianças, desde que o roteiro seja adaptado e flexível. Natureza, animais, trilhas curtas e paisagens de tirar o fôlego: tudo isso fez parte do nosso álbum de memórias.
Alimentação e Rotina com os Pequenos
Manter a alimentação equilibrada e uma rotina minimamente estruturada durante a viagem era uma das nossas maiores preocupações — afinal, crianças pequenas costumam depender bastante disso para se sentirem seguras (e ficarem bem-humoradas!). A boa notícia é que, com um pouco de planejamento e flexibilidade, conseguimos nos adaptar super bem.
Onde comer com crianças na Patagônia
Tanto em El Calafate quanto em Puerto Natales, encontramos restaurantes que nos surpreenderam positivamente. Muitos estabelecimentos são preparados para o turismo familiar e oferecem cadeiras altas, cardápios variados e um ambiente acolhedor.
Alguns lugares até trouxeram folhas e lápis de cor para entreter os pequenos enquanto esperávamos a comida — um gesto simples, mas que faz toda a diferença.
Com relação ao cardápio, encontramos opções de massas, milanesas com batata, sopas e até legumes cozidos — pratos que agradaram nossos filhos e nos deram tranquilidade. Claro, também teve pizza e hambúrguer em alguns dias, porque estamos falando de uma viagem, né?
Adaptação de horários e alimentação
Na Patagônia, principalmente na Argentina, o jantar costuma ser servido mais tarde — muitos restaurantes só abrem depois das 19h. Para evitar problemas com o horário das crianças, a gente adaptou de duas formas: ou preparávamos algo leve na hospedagem (como sanduíches ou sopas prontas compradas no mercado), ou fazíamos um lanche reforçado no meio da tarde para segurar até o jantar.
O café da manhã nos hotéis foi essencial para manter a rotina: levávamos sempre uma fruta ou um pãozinho extra para a manhã render melhor. E respeitamos o ritmo deles sempre que possível — se o dia foi mais cansativo, fazíamos uma refeição mais tranquila no quarto mesmo.
Levar comida/snacks ou comprar no local?
Fizemos um combo dos dois. Levamos na mala uma pequena reserva de snacks que sabemos que eles gostam: biscoitos, suquinhos, frutas desidratadas e barrinhas infantis. Isso nos salvou em vários momentos, especialmente durante deslocamentos longos, passeios de barco ou caminhadas.
Mas também compramos muita coisa nos mercados locais — e foi ótimo! Achamos iogurtes, pães frescos, queijos, frutas e até papinhas industrializadas em algumas farmácias. Ter acesso a mercados em El Calafate e Puerto Natales nos ajudou a complementar a alimentação e manter os pequenos bem nutridos sem estresse.
Resumo da experiência: alimentação com crianças na Patagônia exige alguma adaptação, mas está longe de ser um bicho de sete cabeças. Com snacks à mão, alguma flexibilidade de horários e escolhas conscientes nos restaurantes, conseguimos manter todos alimentados e felizes — o que, convenhamos, é meio caminho andado para qualquer viagem dar certo!
Desafios da Viagem com Crianças
Viajar com crianças pequenas é sempre uma aventura à parte — e na Patagônia, com clima instável, longas distâncias e muita natureza selvagem, os desafios aparecem mesmo. Mas o segredo está em preparar o coração (e a mochila) e encarar cada imprevisto com leveza.
Cansaço, frio, birras – como lidamos
O primeiro desafio foi o cansaço acumulado. Acordar cedo, sair do hotel agasalhado, andar bastante e lidar com o vento constante exigiu mais deles do que estávamos acostumados. E, claro, quando o cansaço bate… as birras vêm junto.
Nossa estratégia foi respeitar os limites: nada de forçar passeios em sequência ou impor horários rígidos. Se um dia foi puxado, no seguinte dávamos uma desacelerada — até que uma simples ida à padaria virava o programa do dia.
O frio e o vento também testaram nossa paciência. Tivemos dias em que foi difícil fazer as crianças saírem do carro ou deixarem os gorros no lugar. Nessas horas, roupas confortáveis e reforçadas (em camadas) foram nossas aliadas, e mantinhas extras sempre iam no porta-malas. Além disso, apelamos para chocolate quente ou biscoito “prêmio” quando precisávamos de uma ajudinha emocional.
Adaptação às mudanças de ambiente e clima
O clima da Patagônia muda o tempo todo — em um mesmo passeio, pode fazer sol, garoar e ventar forte. Isso impacta diretamente nas crianças, que podem ficar irritadas com tantas trocas de roupa ou desconfortos inesperados.
Para evitar estresse, sempre saíamos preparados: capas de chuva, segunda muda de roupa, protetor labial, hidratante e gorros na mochila. Também explicávamos tudo de forma lúdica para eles — tipo: “o vento aqui é um gigante brincando de soprar”, o que funcionou surpreendentemente bem.
Outro ponto foi a adaptação ao ambiente novo. Novas camas, comida diferente, muita novidade… isso pode deixar os pequenos mais sensíveis. Teve noite com insônia, um dia de febre leve e algumas manhas fora do padrão. Mantivemos a rotina de sono o mais parecida possível com a de casa, levando os brinquedos favoritos e até o cheirinho de dormir, o que ajudou bastante.
Como entreter as crianças durante deslocamentos longos
Ah, os trajetos intermináveis entre uma paisagem e outra… lindos para os adultos, mas nem sempre empolgantes para crianças pequenas. Nesses momentos, nosso kit de sobrevivência incluía:
Tablets com desenhos baixados (e bateria cheia);
Histórias contadas de improviso ou áudios infantis;
Brincadeiras clássicas como “achar a cor” ou “quantos guanacos você vê?”;
Paradas estratégicas para lanche e esticar as pernas.
Também tentávamos fazer dos deslocamentos parte da aventura: olhar os animais na estrada, contar montanhas, inventar nomes para lagos e formações rochosas… Envolver as crianças na viagem fez com que se sentissem parte da experiência, e não apenas passageiros entediados.
No fim, os desafios existiram, sim — mas nenhum deles foi maior do que a vontade de viver algo especial em família. Com um pouco de flexibilidade, empatia e bom humor (às vezes com sono, mas sempre com amor), conseguimos transformar perrengues em histórias e aprendizados.
Momentos Inesquecíveis em Família
Por mais que a gente se prepare, planeje e revise mil vezes o roteiro, são os momentos inesperados que tornam uma viagem realmente memorável. E na Patagônia, entre o frio no rosto e os olhos brilhando de encantamento, tivemos várias experiências que vão ficar com a gente para sempre — especialmente por terem sido vividas em família.
Histórias marcantes ou engraçadas da viagem
Logo no primeiro dia em El Calafate, fomos surpreendidos por um mini temporal de vento enquanto caminhávamos na passarela do Glaciar Perito Moreno. Enquanto os adultos tentavam se proteger, nosso filho de 5 anos abriu os braços e gritou: “Eu sou o rei dos ventos!” — como se estivesse numa cena de filme. Foi impossível não rir, mesmo congelando.
Em Puerto Natales, tivemos outro momento inesquecível: uma lebre enorme cruzou nosso caminho enquanto fazíamos uma caminhada tranquila ao entardecer. A reação das crianças foi tão espontânea — “Olha, um coelho gigante!” — que a lebre deve ter se assustado mais do que nós. Aquela mistura de natureza, surpresa e inocência nos fez lembrar por que amamos viajar em família.
Teve também o episódio da mochila mágica: em um dos trajetos longos de carro, esquecemos os brinquedos das crianças no porta-malas. Improvisamos com itens do próprio carro — um rolinho de papel, uma garrafa vazia, uma meia — e criamos uma “aventura dos exploradores perdidos no gelo”. Resultado? Duas horas de pura imaginação e nenhuma reclamação. Uma aula de criatividade e conexão.
O que mais encantou as crianças
Sem dúvida, o que mais encantou as crianças foi o contato direto com a natureza. Ver o gelo do glaciar estalando, encontrar animais soltos no caminho, pular em poças de água derretida, brincar com pedras coloridas… tudo era motivo de fascínio.
O silêncio dos lagos, o barulho do vento nas árvores, o simples fato de estar ao ar livre, livre de telas e distrações urbanas, mexeu com eles de um jeito especial. Às vezes, a gente subestima o quanto as crianças são capazes de se conectar com o mundo natural — mas elas sentem tudo, e sentem com força.
O que os pais mais amaram na experiência
Para nós, pais, o mais marcante foi ver nossos filhos vivendo o mundo com os próprios olhos. Ver o brilho no olhar deles, as perguntas curiosas, os silêncios contemplativos diante de uma paisagem imensa… tudo isso nos lembrou por que vale tanto a pena sair da rotina e viver momentos assim.
Também amamos o fato de termos conseguido, mesmo com todos os desafios, criar uma experiência genuína de união. Sem pressa, sem distrações, só nós quatro, explorando o desconhecido juntos.
Foi cansativo? Um pouco. Mas foi, acima de tudo, transformador. A Patagônia nos mostrou que, mesmo com crianças pequenas, é possível viver grandes aventuras — e que elas, inclusive, tornam tudo mais especial.
Dicas Finais para Quem Quer Fazer o Mesmo
Se você está pensando em se aventurar pela Patagônia com crianças pequenas, aqui vão algumas dicas sinceras e práticas baseadas na nossa experiência. Não existe uma fórmula mágica, mas algumas escolhas certas podem deixar tudo mais leve — e inesquecível.
O que levar na mala
Além das roupas em camadas (segunda pele, fleece, casaco corta-vento, gorros, luvas e meias quentinhas), recomendamos incluir:
Capa de chuva ou poncho infantil – o clima muda rápido.
Mochila com alças confortáveis – essencial para quem vai caminhar com crianças ou carregar lanches e casacos.
Lanches práticos e conhecidos – ajuda a manter a rotina alimentar e evita crises em horários inesperados.
Entretenimento portátil – livrinhos, brinquedos pequenos, tablet com conteúdo offline.
Farmacinha básica – com antitérmico, curativos, hidratante labial e protetor solar infantil.
Cheirinho de casa – um cobertor, bichinho ou travesseirinho que traga conforto nos dias mais difíceis.
Leve também flexibilidade na bagagem emocional — isso vale mais que qualquer item!
O que evitar
Roteiros muito corridos: tente não encaixar várias cidades ou passeios em sequência. Com crianças, menos é mais.
Trilhas longas ou com terreno muito irregular: mesmo que pareçam “leves”, a logística com os pequenos pode transformar uma trilha tranquila em uma maratona.
Restaurantes com horários rígidos: priorize locais mais flexíveis ou que abram mais cedo — ou prepare-se para improvisar refeições.
Exigir rotina de adulto: viajar com criança não é igual a viajar sem criança. Ajuste as expectativas para o ritmo familiar.
Mentalidade: ir com expectativas realistas
Essa talvez seja a dica mais importante de todas. Vá com o coração aberto, mas com os pés no chão. Você vai perder alguns passeios? Provavelmente. Vai precisar mudar o plano na última hora? Com certeza. Mas também vai ganhar algo que nenhum roteiro pode prever: momentos de conexão profunda, risadas espontâneas, descobertas inocentes e um novo olhar sobre o mundo — através dos olhos dos seus filhos.
A Patagônia não precisa ser radical para ser mágica. Com paciência, carinho e um bom casaco, ela pode ser um dos destinos mais incríveis que sua família já conheceu.
Conclusão
Valeu a pena? Com toda a certeza, sim. A Patagônia nos presenteou com paisagens de tirar o fôlego, momentos de silêncio e contemplação, e experiências que nos uniram ainda mais como família. Não foi uma viagem fácil, mas foi real, intensa e profundamente transformadora. Repetiríamos? Sem pensar duas vezes — só ajustaríamos ainda mais ao ritmo das crianças e, quem sabe, exploraríamos outros cantinhos da região.
Essa viagem nos ensinou que aventura não precisa ser sinônimo de perrengue, e que crianças são muito mais adaptáveis e curiosas do que imaginamos. Elas não precisam de brinquedos sofisticados nem parques temáticos para se encantar — basta uma pedra diferente, um animal selvagem ao longe, o som do vento ou um rio correndo gelado entre as montanhas. Aprendemos a desacelerar, a escutar mais, a rir do inesperado e a valorizar o simples.
Se você é pai ou mãe e tem vontade de colocar o pé na estrada com seus filhos pequenos, vá. Vá mesmo com receio, mesmo sem saber se eles vão curtir. Vá com cuidado, mas também com coragem. Porque viajar em família não é sobre seguir o roteiro perfeito — é sobre criar memórias que vão acompanhar vocês por toda a vida.
E acredite: a Patagônia, com sua beleza bruta e generosa, pode ser um dos melhores lugares do mundo para começar.